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As mães (NÃO TODAS, EU SEI).

Eu nunca tive filhos e nem sei se algum dia quererei ter. E este é o momento em que o movimento ''das mães em fúria'' se revolta, como se eu confessasse estar prestes a desviar um avião de mantimentos, destinado a alimentar as criancinhas da Serra Leoa. 

A verdade é que não sei se um dia vou querer ser mãe. Só sei que para já, e por ''já'' entenda-se os próximos seis ou sete anos, não penso sequer nessa possibilidade.

Quando tinha quinze/ dezasseis anos, naquela fase parva em que nos julgamos donos de todos os ''nunca'' e ''para sempre'' do mundo, era capaz de jurar a pés juntos jamais parir um puto de livre e espontânea vontade.

Hoje, ligeiramente menos idiota, sei que a vida se encarrega de nos mudar. De nos apresentar as mesmas possibilidades sob diferentes perspectivas.

E por isso, quem sabe um dia, no interior deste meu ventre querido cresça um puto!

Mas.... mesmo que assim seja, mesmo que a natureza me mostre que ser mãe é uma coisa para cima de espectacular, uma coisa é certa: não sou uma mulher talhada para a maternidade.

Se isso quer dizer que vou ser má mãe, e sedar os putos na hora do jogo do Benfas para que não me azucrinem o juízo? Não.

Significa apenas que JAMAIS serei uma daquelas mulheres que nasceram para ''dar à luz'' (expressão ridícula), uma daquelas mulheres que só se sentiram completas e realizadas depois de serem mães! Não.

Tenho até cá para mim a leve desconfiança de que se, por ventura, o médico me informasse que não posso ter filhos, a minha reacção seria mais ou menos parecida àquela que tive quando o dentista me disse que tinha apenas 24 dentes. Que nunca teria molares ou ''dentes do juízo''. É uma pena, uma chatice, mas nada que me faça pôr em causa o ''ser feliz''. 

''Ai que disparate, nenhuma mulher devia morrer sem saber o que é ser mãe. Não há nada melhor no mundo!'', defende mais uma vez o Gang das parideiras.

É a opinião delas, respeito. Da mesma forma que exijo que respeitem quando digo que ninguém devia morrer sem conhecer os cinco continentes. Que ninguém devia partir sem ver Roma, Rio de Janeiro, NY...São objectivos de vida, lá está.

 

E com este post devem estar todas a pensar que não gosto de crianças. Que sou um pequeno cubo de gelo que vocês, mães desta vida, picariam de bom grado e transformavam em caipirinha! 

Não é nada disso! Acho que ser mãe deve ser uma experiência do camandro! Que, realmente, não deve haver amor maior... que tem um lado muito lindo e bláblábla, apenas não sei se é isso que quero para mim, e este é um direito que me assiste! 

Como comecei por explicar, não sei absolutamente nada sobre esse amor interminável, e que por isso não ouso sequer opinar acerca das escolhas que as progenitoras fazem em prol do seu rebento. ''Só quem é mãe é que sabe'', repetem vocês, com toda a razão. 

 

Ainda assim, há coisas, menos profundas e belas, que me fazem muita confusão.

Não estou a falar daquele fenómeno estranhíssimo que consiste em amamentar a criancinha na fila do super mercado se preciso for, ou em frente dos colegas de trabalho do marido, quando vão lá a casa ver o puto, como se de repente a mama da mulher deixa-se de ser uma parte intima do corpo, passando a estar ao mesmo nível do cotovelo ou do dedo gordo do pé. 

Não estou sequer a referir-me à contagem dos meses até à faculdade, tipo ''o meu Tiago tem 32 meses e meio'', ou ao tratar a criancinha por ''o menino'', ou ''a menina''. 

Aquilo que me escapa é a forma como algumas mulheres abrem mão de si próprias após a maternidade (não são todas, repito).

A forma fácil e indolor com que abdicam de ser isso mesmo ''mulheres'' para se tornarem apenas e só mães. 

''Ser mãe'' pode ser espectacular, acredito que sim. O que eu não acredito é que seja suficiente. Que nos complete e que nos realize a cem por cento. 

Aí, tenham santa paciência. 

Há tempos estive no Hospital da Luz e partilhei a sala de espera com seis ou sete mamãs. Qual delas a pior? Não sei. 

Mal trapilhas, descuidadas, masculinas, até! 

Só lhes faltava um letreiro na testa a dizer ''fui mãe, passei de mulher a trambolho, mas tô nem aí''.

Francamente, custa-me um bocadinho a perceber esta atitude (ou falta dela). Acho natural que nas primeiras semanas, talvez até nos primeiros meses, a mulher passe por um período de adaptação. Que precise reaprender a gerir o tempo, reorganizar-se e reassumir-se. Mas depois? Passado um ano, ou dois? Aí já não acho normal.

Acho sim que a ''falta de tempo'' é uma desculpa fácil para a perda de vaidade, muitas vezes de auto-estima. Para o desleixo progressivo.

 

Em tempos falava com uma conhecida que me dizia só ter voltado a ter relações sexuais com o marido DOIS anos depois de ter sido mãe. E dizia isto convencidíssima de que era perfeitamente normal. De que a vida ''pós maternidade'' tinha muitas outras coisas capazes de a preencher de forma tal,  que o sexo se havia tornado perfeitamente dispensável. Afinal, o sexo serve para fazer putos não é? Então missão cumprida! 

Acredito que muitas vezes a sociedade coloca as mães num pedestal e é extremamente ingrata para com os pais. Para com os homens!

Os homens, que passado meia dúzia de anos começam a olhar para o lado e que são uns grandes ''cabrões'' por isso. Os homens, que já não olham para as esposas da mesma forma, e que já não são os príncipes por quem elas se apaixonaram! Os homens que de repente perdem as mulheres que conheceram e que ganham uma mãe! ''Ah, mas ganham um filho, que é a melhor coisa do mundo'', dizem vocês outra vez!

Certo, mas perder a mulher para ganhar uma ''mãe do filho'' parece-me um preço demasiado alto a pagar! 

 

Concordo que seja preciso ser-se paciente, que os primeiros meses são uma novidade para ambos, e que durante uma primeira fase a ''vida a dois'' não seja  prioridade. Mas também acredito, sinceramente, que as mulheres muitas vezes cegam com a maternidade. Que deixam de se sentir sexys, desejáveis, e que isso as conduz a um ''cinzento rato'' pouco estimulante para o parceiro.

Acredito que a maternidade traga muita coisa, mas não acho que nesse processo de ganhos e de acrescentos, se deva perder, ou abrir mão, daquilo que somos. Da nossa identidade enquanto mulheres. 

 

Se é por isso que não sei se quero ser mãe? Não. Até porque conheço muitas mulheres lindas, cuidadas, vaidosas e mães. 

Porque sei que nunca seria uma dessas mães. Porque gosto demasiado de mim. 

E gostar de nós não significa gostarmos menos deles, filhos. Significa apenas isso: que gostamos de nós. 

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