POST RECUPERADO
Escrevi este post num outro blog. Neste blog, de que gosto muito, e que ainda espero recuperar um destes dias.
Hoje começa a Primavera e não encontro palavras mais cheirosas do que estas. Palavras minhas, de que já nem me lembrava. Nem do cheiro. Nem de nada.
''Quando fores à praça traz-me a Primavera. Num saco.
Deixa-a junto à porta, atrás da porta,
para que tropece nela ao chegar a casa.
Para que caia sobre ela de joelhos.
Traz-me a Primavera. Toda a que encontrares...
a mais fresca e a mais viçosa.
Não olhes ao preço, faz como te ensinei:
apalpa, cheira...atira-a ao ar! Mas traz-me a melhor.
A maior e a mais bonita.
Traz depressa. Traz toda.
Deixo-te dinheiro à entrada, na mesa, debaixo do telefone.
Não sei se chega... tudo custa os olhos da cara.
Mas se não for suficiente, deixa os discos no prego.
O relógio que te ofereceste .
As luvas de pele que o Natal te deu.
Mas traz-me a Primavera. Embrulhada, mas mal....
Para que eu possa deixar cair pedaços no chão ao abrir o saco,
para que possa espalhar-se pela sala como grãos de açúcar
a escorregar pela cozinha.
Leva os restos do cinza e da lã,
as meias e o roupão.
Ah, e os sacos de lixo que separei no corredor.
Leva-os lá para fora, entrega-os a quem quiseres.
A quem pedir. Livra-te deles.
Traz-me a Primavera, logo que vejas
este bilhete.
Mal ouças o grito da vendedora.
Traz-me a Primavera.''